Do livro Vintém de Cobre

Do livro Vintém de Cobre
Texto de Cora Coralina

sábado, 10 de janeiro de 2015

à Augusto dos Anjos, Poeta da Morte minha homenagem



Por trás de toda beleza há um esqueleto

"E há de deixar-me apenas cabelos,
na frialdade inorgânica da terra!"

Augusto dos Anjos nasceu no dia 20 de abril de 1884, no Engenho Pau D'Arco na Paraíba e faleceu em 1914 de pneumonia, em Leopoldina Minas Gerais. Foi um poeta parnasiano ou simbolista e publicou apenas um livro em vida EU (1912).
O tema de sua poesia é a morte em dados científicos e filosóficos com uma consciência imediata e esquisita da senhora morte sempre a nos espreitar, fétida e fatal. Era uma presença incômoda no meio literário brasileiro e social, pudera se poesia servia para falar das quimeras ou sonhos, ele vem falar de morte sem romantismo ou realismo nenhum, ela era pior que isso nos versos dele, era impiedosa. Parece uma poesia suicida, pois a morte se insinua se exibindo em ossos e vermes a dançar na frente da imaginação de quem não quer nem falar no assunto, e eu vejo os médicos dos dias de hoje assinando um atestado de óbito, mas ele é um Deus, aquilo não vai acontecer com ele. E se por acaso pensar no assunto com certeza vai deprimir a morte e se tiver esperando algum diagnóstico de alguma doença incurável fica morto em vida por meses, até o perigo passar.
Nós temos o Robson Pinheiro que conhece a morte subterrânea e alça voos no infinito. Seus livros são maravilhosos nessa descrição. Já li alguns e espíritas dogmáticos teriam dificuldade em aceitá-lo, devido a realidade que ele retrata da vida intraterrena em meio aos anjos da escuridão.
Também memórias de um suicida tem mais dados concretos da poesia de Augusto dos Anjos. Este livro é da Yvonne do Amaral Pereira. Relata a morte de Camilo surpreso com sua cegueira, não suporta viver se matando com um tiro na cabeça. E por anos revive esse momento pós mortem sangrando sem parar e sentindo o corpo em putrefação em meio aos vermes corroendo sua carne. Mesmo depois da decomposição ele revivia esse período incessantemente em terrível agonia por décadas.
A cegueira é uma doença emblemática que serve de exemplo para todos nós pois desenvolve outros sentidos, e a visão pode chegar pelo ouvido por exemplo, abrindo um mundo de esperança para quem não se revolta.
Como já possuo uma doença crônica e agressiva, instalada em meu organismo sou uma canditata à rainha ou princesa, da morte. Chegarei no céu exibindo uma faixa brilhante de Miss Morte toda sorridente chorando de emoção.
Não sou dramática como Augusto dos Anjos , mas acho que ele nos prestou um bom serviço, ou ele matava a morte ou a morte o matava e o matou de tristeza que é a doença que ataca os pulmões. Naquela época os recursos religiosos eram um pouco menores e ele quase chegou perto da ajuda pelo Budismo. Faltou pouco.
A notícia da Exposição na Casa das Rosas de seus poemas chamou-me a atenção. Um pouco depressiva e assustada vim para o computador. Se até Jesus ficou agoniado no Horto das Oliveiras, porque eu, uma mulher no interior de seu lar, num mundo muito mais doido do que o mundo em que ele viveu há mais de dois mil anos atrás, assistindo na Tv relatos de ataques terroristas recentes provocando mortes violentas, não poderia questionar a morte com certa tranquilidade, tentando até fazer um pouco de troça com conversa tão chata?
"Poderia ter escolhido uma imagem poética de Jesus no Horto, mas prefiro homenagear meu irmão Augusto dos Anjos, que hoje já deve ter superado sua morte e deve estar vivendo feliz em algum lugar do universo fazendo belas poesias para agradar a Deus ou aos homens aqui na terra" 
O inferno não é para sempre, essa é uma grande esperança para qualquer um que tem fé na sobrevivência do espírito muito mais importante do que esse corpinho perecível.

"A esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe na crença,
Vão-se os sonhos nas asas da Descrença
Voltam os sonhos nas asas da Esperança"

Nenhum comentário:

Postar um comentário