Do livro Vintém de Cobre

Do livro Vintém de Cobre
Texto de Cora Coralina

terça-feira, 7 de agosto de 2012

HONRA SE LAVA É COM SANGUE

O capítulo de hoje na novela Gabriela, fêz-me lembrar uma frase de meu pai "de onde eu sou, não existe cornos, existe viúvo" .
Dona Sinhazinha, uma senhora muito linda, cumpridora dos deveres, freqüentava a sociedade de Ilhéus, na Bahia.  Casada com o Coronel Jesuíno, dono de uma fazenda de cacau (matéria prima do chocolate), produto de exportação, moeda de ouro na época, apaixonou-se pelo dentista.
Coronel Jesuíno era um homem com os valores morais vigentes, rude no trato com a esposa, que quando ia se deitar com a mulher, a tratava como um objeto de uso. Este era o único modelo de homem que tinha, até conhecer o dentista, vindo de outra região, cultura e valores. Começou tratando-a com respeito e amor, até se envolverem. As ausências do Coronel Jesuíno, favoreceram-lhes os encontros amorosos em seu consultório e residência.
A empregada descobriu,  passando a chantageá-la, usando vestidos e chapéus da patroa chamando atenção de Dona Dorotéia e amigas. Esta senhora anciã, dizia agir sempre em nome da moral e dos bons costumes. Certificou-se do adultério, e avisou ao Coronel que ele era corno, que fosse à casa do dentista verificar com os próprios olhos o fato. Ele saiu armado, encontrou a esposa nos braços de outro, se deparando com uma cena de amor. A mulher estava vestida de meias pretas e roupas sedutoras. Matou o casal e saiu, acompanhado de uma multidão atrás.
Abrigou-se na casa de Dona Dorotéia, que lhe deu retaguarda. Chegou dizendo que "honra se lava é comsangue". Outro Coronel comentou com ele: "Homem que é homem não aceita traição, mostrou que é macho.
No enterro dela, apenas a menina Malvina compareceu e depositou-lhe uma flor branca, nas mãos de Dona Sinhazinha. Defendeu-a para o professor, dizendo que ela não tinha amigas; as tinha quando fazia o que elas queriam, no momento que seguiu seu coração, perdeu-as todas. Amigas hipócritas, diziam agir pela moral e bons costumes, mas faziam pela inveja que sentiam.
Apenas Gabriela, Doutor Mundinho, a menina Malvina o professor e o irmão de Berto, numa cidade de trinta e três mil habitantes, sustentaram que a morte de Dona Sinhazinha foi crime.
Meu pai contava a história de uma amigo que matou o filho adotivo, pois suspeitava que fosse amante de sua esposa. Ele mesmo acreditava que podia ser fantasia.
Eu fui criada neste meio, com  pensamentodo homem poder tudo e a mulher nada. Este pensamento rege a mentalidade do meu sogro, marido e filhos e desta cidade do cone sul do Brasil.

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