Do livro Vintém de Cobre

Do livro Vintém de Cobre
Texto de Cora Coralina

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O SONHO DE GABRIELA É O MEU

Walcyr Carrasco, autor da novela "Gabriela" da TV Globo, está criando uma tela lindíssima sobre a prisão em que viviam as mulheres em 1958 quando o livro de Jorge Amado foi publicado. Eu diria que esta novela é um paradigma que denuncia a liberdade excessiva que é dada aos homens, e a restrição de opções de vida destinada às mulheres. Praticamente é uma predestinação planetária, que vem desde os tempos bíblicos, quando Eva demonstrou o desejo de provar da maçã, contaminando a mente do pobre e inocente homem. Começa desde aí a punição para o sexo frágil. -"Mulher não desobedeça, senão o planeta em que vives será lançado no inferno".
Jorge Amado teve muita sensibilidade para mostrar os dois paradgmas em que vive a humanidade, o masculino e o feminino. Aos homens é dado toda a liberdade, mulheres, viagens, responsabilidades, poder. E o mundo feminino ficou reduzido a cama, mesa e cuidado das crianças, à subserviência.
Quando lindamente Gabriela, vivida por Juliana Paes, libera o passarinho preso na gaiola azul, do turco Nacib, representado por Humberto Martins, está soltando todo seu desejo de viver livre e feliz. Neste momento ela se deu conta da armadilha que a vida lhe pregou com o casamento.
A sociedade está se vingando de sua simplicidade, prestes a anatematizar Gabriela assim como Eva foi expulsa do Paraíso.
Desde então, na criação do planeta Terra, existe uma jornada arquetípica para a mulher cumprir.
Se ela ousar sair desta rota, sobra-lhe a expulsão do paraíso social, indo parar no gueto das abomináveis prostitutas, o inferno social, para deleite dos homens que vivem entre os dois modelos femininos, a Santa e a Prostituta, transitando livremente entre o Céu e o Inferno, o dia e a noite.
Eu me sinto como Gabriela, expulsa do Paraíso Social, porque ousei desobedecer as regras da sociedade abertamente.
Quando assistia o capítulo me emocionava com a beleza da cena. No momento não sei como acontece o borbulhar das emoções mais profundas. Só mais tarde, dias após vem à superfície da consciência as verdadeiras razões de tanto sentir. E a minha dor paira no inconsciente coletivo do universo feminino que sobrevive a todos os tempos.
Por ser mulher sei que nós mulheres ainda teremos que trabalhar muito para nos situarmos em igualdade com os homens. Só não posso deixar que o medo me paralise!

2 comentários:

  1. Que reflexão tão sofrida da condição de Mulher. Da condição a que o Homem a reduziu e continua a defender e a lhe exigir. Tem toda a razão e eu não sou melhor que os outros. A "Gabriela" também está passando em Portugal. Já vimos a primeira versão, 1977, e pensamos continuar. Juliana Pais quase fazesquecer Sónia Braga. Notável!

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  2. Em mil novecentos e setenta e sete eu não pude acompanhar, mas agora tenho visto a maioria dos capítulos e estou gostando muito.Imaginei que esta novela passasse em Portugal mesmo. Podia ser considerada Patrimônio dahumanidade.

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